
Não, a última semana não foi de tantas papelices como a anterior. Eu simplesmente estava vazia para escrever. O sentimento que devem ter os troncos ocos, um Kinder Ovo sem surpresa. Trabalhar no que trabalho me deixa tão triste, tão triste, tão irritada, tão desesperançada, tão desrespeitada, tão vilipendiada (olha o mofo!), que vez por outra chupa até minha grande alegria de digitar. Arrasto-me para cá de volta, obrigatoriamente, com o coração ainda de pijamas. Protesto, faço luto, mas volto.
É óbvio que o leitor pensou coisas óbvias. Que eu mude de emprego, que eu largue essa vida mal-amada de professora do município. É óbvio, também, que essas coisas óbvias eu mesma já pensei. Sem ajuda, acredite. Se ainda não as realizei, num ato de fúria desesperada ou coragem suprema, é porque infelizmente não me falta racionalidade. Ou falta no lugar errado.
Largar o município significa largar um trabalho estável, imperdível (a não ser que se defenestre algum aluno, o que já não acho tão irreal), de "apenas" 16 horas semanais – fora de casa, é claro –, e que ainda por cima dá direito à meia-entrada em cinemas e afins, o que não é pouca vantagem para uma cinéfila. Fora o salariozinho que, sem ser especialmente bom, consegue mais-que-dobrar o pagamento do estado. Seria maravilhoso se não fosse uma &%$#*%&. Se não me subisse o sangue a cada vez que um aluno me xinga (mesmo que para não ser ouvido). Se não me incomodasse o fato de ir perdendo a voz dia após dia. Se não me amofinassem os deboches, as malcriações, as desobediências e todo o pacote que enfrentamos para, ao final, sermos recompensados com uma nova caçambada de notas vermelho-sangue. Notas de gente que, apesar de todos os nossos pesares, pode ter ouvido a aula mas sacudiu-a da cabeça na primeira esquina. Jogou-a na primeira lixeira laranja da rua. Se é que a jogou na lixeira em vez de acertar um transeunte pela janela do ônibus – que nem isso aprendem.
O que quero da vida? Ter a decência de, algum dia, atirar as malas para fora da gaiola de ouro e sair batendo a porta. Ser insanamente saudável no lugar de me manter, semana após semana, bimestre após bimestre, irrepreensível e responsavelmente infeliz.