
Nunca tive problemas com aqueles filmes professormente edificantes, em que um mestre consegue transtornar (no bom sentido) as vidas de alunos duvidantes e duvidosos. Chorei horrores no fim de Mr. Holland, por exemplo, e adoro a pérola até hoje. Mas essa boa vontade ficcional só durou até minha entrada no município. Uma vez ferida pelas salas de aula em seu pior aspecto, tudo que quero é ficar longe delas nas páginas, na telinha, na telona. Já me custam demais os doze tempos da vida real. Catucar o machucado, mesmo em histórias docemente mentirosas (ou principalmente nelas), faz sair a casca que estanca o sangue entre um dia de aula e outro. Jogos mortais me abala menos, porque de serial killers costumo manter uma distância mais saudável. Pelo menos até onde eu sei.
Uma honrosa exceção tem sido o Diário de escola, livro de Daniel Pennac dado aos professores do município que o escolheram. A lógica não me mandava optar pela obra, mas é aquele quê que nos dá de repente: levei-o para casa. Estranhamente, comecei a lê-lo. Delícia. É verdade que me sinto três mil vezes mais ameba do que antes, aulamente falando. Pennac é o cara em termos de professorices. Ainda assim, gosto de o beber em goles no metrô, enquanto vou para a tortura. Daniel Pennac me acaricia com pílulas de compreensão aguda e parece que embriaga a gente. Não sublinho suas tantas inteligências para não sublinhar o livro inteiro. Mas já te quero em negrito, Pennac, italicamente: obrigada por me atormentar com muito mais precisão do que todas as ruminâncias educativas deste mundo. Tenho, agora, muito mais verdade para me sentir culpada. Antes assim: encontrar sempre uma Dona Benta literária e chorar no colo certo.