
Para minha total delícia, a próxima sexta-feira é mais um dos dias letivos engolidos pela Copa. A coisa fica mais orgástica pelo fato de a sexta ser o dia com mais tempos de aula. Engraçadamente, os alunos parecem "vingar-se" dos professores ao exclamar sua felicidade ante a proximidade do feriadão. Julgam que nosso maior objetivo na vida é estar diante do quadro, infernizando sua existência com gramáticas furiosas, exercícios estripadores e interpretações cruéis. Quão linda a inocência. Deixe-os pensar assim, ó mundo, que faz um bem danado aos meninos ser mocinhos de sua própria história e ter vilões que se dediquem apaixonada, exclusivamente à sua causa. Que decepção a dos alunos, se descobrem que o professor os trai com o cinema e a televisão! Quantos adultos lhes restarão para fazer oposição direita e honesta?
Sei que nunca torci com tanto calculismo pelo Brasil. Em 94, aluna de férias, acompanhei e sofri todos os jogos just because. Era brasileira, precisava mais? Em 98, mantive a lealdade, mas o sofrimento excessivo da final me impediu de ver qualquer jogo de 2002. Escaldei-me. Fiz beicinho (sem esperança de regresso). Em 2006, pensava só e tão-somente na viagem a Orlando – aliás, descobri há poucos dias que sequer me lembrava do país que sediou o campeonato. As únicas redondices que me interessavam, então, eram orelhinhas de Mickey; todo o resto do ano inexistiu. Agora, neste vuvuzelante 2010, sou professora do município e acompanho a tabela com a paixão da necessidade. Necessidade de folga. A paixão fria e estúpida de evitar um dia de correria, um dia de aborrecimento, um dia de gritaria e rouquidão. Quanto mais vuvuzela berrando brasileiramente, menos berro meu. Gritem, vuvuzelas, gritem. Pra frente, Brasil-sil-sil. Salve a seleção.
O dia (anotem:) o dia em que eu exclamar "Ah! que droga!" diante de um feriadão, minha alma profissional está salva. Seja onde for, estarei lá.