domingo, 20 de junho de 2010

Penúltima flor do Lácio


Não sei os outros professores, mas eu, que me considero razoavelmente proficiente na língua pátria, que me viro em inglês a ponto de não morrer de fome em outro país, que acho sonoramente colorido o sotaque espanhol e o francês, me torno uma xenófoba em potencial quando falam comigo em educacionês. Como odeio essa penúltima flor do Lácio, incultíssima e horrenda. O educacionês nada mais é do que pegar coisas que poderiam soar muito cruas (ou muito simples – pra que simplicidade?) no bom vernáculo e transformá-las em formas tão vazias quanto incompreensíveis, mas que dão uma ideia de falar bonito.

Por exemplo: se o aluno precisa aprender a identificar sujeito e predicado, dizem algo como "ser capaz de aferir os componentes que estruturam sintaticamente a oração", ou outra aberração do gênero. Se precisa parar de querer assassinar os coleguinhas, ele "necessita de maiores substratos para o pleno convívio social". Se é um capeta que o professor quer defenestrar ou estripar a cada aula, o que estiver mais à mão no momento, ele "é um aluno com déficit de atenção e aproveitamento". Não nos dizem sequer o que trabalhar em cada série; aqueles odiosos "descritores" do município dão a entender que tudo está valendo, desde que seja Português. Murmuram algo vagamente "contextual" e "morfossintático" para os professores, lançam a bomba e saem correndo.

Para quem conseguir fazer a gentileza de me traduzir esse periclitante idioma, prometo que caço, mato e trago a cabeça do primeiro Projeto Político-Pedagógico que eu vir dando sopa por aí. Porque o PPP, sabemos, é como as madeleines de Proust: todos dizem que existe, mas ninguém nunca viu. In Portuguese, at least. De resto, mim não entender.

9 comentários:

Rogério Lima disse...

A importância do PPP está no fato de que ele passa a ser uma direção, um rumo para as ações da escola. É uma ação intencional que deve ser definida coletivamente, com conseqüente compromisso coletivo

L.L disse...

Gostei^^
PS: adorei o blog, muito legal!

Marcus Alencar disse...

Cara, concordo com você a respeito disso e sinto muito em ver que essa praga do educacionês é algo que se infesta em outras formas de linguagem. É estranho ver que pessoas cuja comunicação precisa ser clara para se fazer entender não percebem o quanto é importante a forma de como se transmite a mensagem. Se nos preocuparmos apenas em falar, não chegar a lugar algum mas se trabalhar o como falar, ai sim dá para ter algum resultado.

Macaco Pipi disse...

por isso tá tudo perdido...

Pedro Prado disse...

PPP.
Confesso que no meio de palavras tão estranhas eu fiquei perdido!
E olha que as minhas melhores notas são em Inglês e Português!!

Anônimo disse...

É isso mesmo! Não sei se vc se recorda, que no tempo de FHC, se falava o tucanês. É tudo muito engraçado, mas é assim que eles querem, então a gente faz. Mas nas salas do professores, nos cinco minutos de intervalo, não é bem isso que se escuta.
Outro dia ouvi um amigo meu, evangélico, dizer algo que nunca dissera. Ele falou: "a 6ª C, hoje, está com o diabo no corpo". Sinceramente, para o meu amigo, aquilo foi o limite, pois ele não xinga mesmo! Rs rs rs

Samilla Fonseca disse...

O PPP existe, e eu já li até alguma coisa sobre os seus direcionamentos, e detestei. Eles ficam usando o ensino público como experiência, testando várias vertentes educacionais, enquando o ensino privado continua simplesmente conteudista, colocando os seus alunos no mercado de trabalho.
Mas isso é uma outra questão e não vem ao caso.
Eu também ODEIO o educacionês! =D
Beijos.

A Line disse...

Fernanda,

me apaixonei pelo seu blog e me identifiquei demais com sua sinceridade. Atualmente não dou mais aulas, mas ainda me lembro bem de como algumas coisas eram difíceis. Só com muita poesia mesmo...
Felicidades!
Ah, e acho q vc deve ser uma professora adorável.

Raquel disse...

Eu detesto essa linguagem. Desde da Faculdade isso me revoltava, e olhe que "professo" língua Portuguesa...Mas esse "educacionês" me tira totalmente a paciência. Encaro isso como fala de quem não tem nada a dizer, pois geralmente, se pego duas laudas dessa "patativada", resumo em três, no máximo quatro linhas e isso é tudo que se consegue extrair, o resto é "conversa pra boi dormir".

Gostei do espaço, já virei seguidora aqui.

Abraços e sucesso!!!!

Raquel rfc